quinta-feira, 9 de setembro de 2010

EXERCÍCIOS SOBRE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

 1- Anedotinhas

 

De manhã, o pai bate na porta do quarto do filho:

— Acorda, meu filho. Acorda, que está na hora de você ir para o colégio.

Lá de dentro, estremunhando, o filho respondeu:

— Ai, eu hoje não vou ao colégio. E não vou por três razões: primeiro, porque eu

estou morto de sono; segundo, porque eu detesto aquele colégio; terceiro, porque eu não agüento mais aqueles meninos.

E o pai responde lá de fora:

— Você tem que ir. E tem que ir, exatamente, por três razões: primeiro, porque

você tem um dever a cumprir; segundo, porque você já tem 45 anos; terceiro, porque você é o diretor do colégio.

Anedotinhas do Pasquim. Rio de Janeiro: Codecri, 1981. p. 8.

No trecho "Acorda, que está na hora de você ir para o colégio" (l . 2), a palavra sublinhada estabelece relação de

(A) adição.

(B) alternância.

(C) conclusão.

(D) explicação.

(E) oposição.

 

 

2- Todo ponto de vista é a vista de um ponto

Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.

BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. 4ª ed. RJ: Sextante, 1999

 

A expressão "com os olhos que tem" (? .1), no texto, tem o sentido de

(A) enfatizar a leitura.

(B) incentivar a leitura.

(C) individualizar a leitura.

(D) priorizar a leitura.

(E) valorizar a leitura.

 

3- Canguru

 

Todo mundo sabe (será?) que canguru vem de uma língua nativa australiana e quer dizer "Eu Não Sei". Segundo a lenda, o Capitão Cook, explorador da Austrália, ao ver aquele estranho animal dando saltos de mais de dois metros de altura, perguntou a um nativo como se chamava o dito. O nativo respondeu guugu yimidhirr, em língua local, Gan-guruu, "Eu não sei". Desconfiado que sou dessas divertidas origens, pesquisei em alguns dicionários etimológicos. Em nenhum dicionário se fala nisso. Só no Aurélio, nossa pequena Bíblia – numa outra versão. dicionário se fala nisso. Só no Aurélio, nossa pequena Bíblia – numa outra versão.

Definição precisa encontrei, como quase sempre, em Partridge: Kangarroo; wallaby.  As palavras kanga e walla, significando saltar e pular, são acompanhadas pelos sufixos rôo e by, dois sons aborígines da Austrália, significando quadrúpedes. Portanto quadrúpedes puladores e quadrúpedes saltadores. Quando comuniquei a descoberta a Paulo Rónai, notável lingüista e grande amigo de Aurélio Buarque de Holanda, Paulo gostou de saber da origem "real" do nome canguru. Mas acrescentou: "Que pena. A outra versão é muito mais

bonitinha". Também acho.

Millôr Fernandes, 26/02/1999, In http://www.gravata.com/millor.

 

Pode-se inferir do texto que:

(A) as descobertas científicas têm de ser comunicadas aos lingüistas.

(B) os dicionários etimológicos guardam a origem das palavras.

(C) os cangurus são quadrúpedes de dois tipos: puladores e saltadores.

(D) o dicionário Aurélio apresenta tendência religiosa.

(E) os nativos desconheciam o significado de canguru.

 

4- RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazios,

nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coração

que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão fácil:

— Em que espelho ficou perdida

a minha face?

Cecília Meireles: poesia, por Darcy Damasceno. Rio de Janeiro: Agir, 1974. p. 19-20.

 

O tema do texto é

(A) a consciência súbita sobre o envelhecimento.

(B) a decepção por encontrar-se já fragilizada.

(C) a falta de alternativa face ao envelhecimento.

(D) a recordação de uma época de juventude.

(E) a revolta diante do espelho.

 

5- Senhora

(Fragmento)

 

Aurélia passava agora as noites solitárias. Raras vezes aparecia Fernando, que arranjava uma desculpa qualquer para justificar sua ausência. A menina que não pensava em interrogá-lo, também não contestava esses fúteis inventos. Ao contrário buscava afastar da conversa o tema desagradável. Conhecia a moça que Seixas retirava-lhe seu amor; mas a altivez de coração não lhe consentia queixar-se. Além de que, ela tinha sobre o amor idéias singulares, talvez inspiradas pela posição especial em que se achara ao fazer-se moça. Pensava ela que não tinha nenhum direito a ser amada por Seixas; e pois toda a afeição que lhe tivesse, muita ou pouca, era graça que dele recebia. Quando se lembrava que esse amor a poupara à degradação de um casamento de conveniência, nome com que se decora o mercado matrimonial, tinha impulsos de adorar a Seixas, como seu Deus e redentor.

Parecerá estranha essa paixão veemente, rica de heróica dedicação, que entretanto assiste calma, quase impassível, ao declínio do afeto com que lhe retribuía o homem amado, e se deixa abandonar, sem proferir um queixume, nem fazer um esforço para reter a ventura que foge. Esse fenômeno devia ter uma razão psicológica, de cuja investigação nos abstemos; porque o coração, e ainda mais o da mulher que é toda ela, representa o caos do mundo moral. Ninguém sabe que maravilhas ou que monstros vão surgir nesses limbos.

ALENCAR, José de. Capítulo VI. In: __. Senhora. São Paulo: FTD, 1993. p. 107-8.

 

O narrador revela uma opinião no trecho

(A) "Aurélia passava agora as noites solitárias.

(B) "...buscava afastar da conversa o tema desagradável.

(C) "...tinha impulsos de adorar a Seixas, como seu Deus.

(D) "...e se deixa abandonar, sem proferir um queixume.

(E) "Esse fenômeno devia ter uma razão psicológica.

 

6- A sombra do meio-dia

A Sombra do Meio-Dia é o belo título de um romance lançado recentemente, de

autoria do diplomata Sérgio Danese. O livro trata da glória (efêmera) e da desgraça

(duradoura) de um ghost-writer, ou redator-fantasma – aquele que escreve discursos

para outros. A glória do ghost-writer de Danese adveio do dinheiro e da ascensão

profissional e social que lhe proporcionaram os serviços prestados ao patrão – um ricaço feito senador e ministro, ilimitado nas ambições e limitado nos escrúpulos como soem ser as figuras de sua laia. A desgraça, da sufocação de seu talento literário, ou daquilo que gostaria que fosse talento literário, posto a serviço de outrem, e ainda mais um outrem como aquele. As exigências do patrão, aos poucos, tornam-se acachapantes. Não são apenas discursos que ele encomenda. É uma carta de amor a uma bela que deseja como amante. Ou um conto, com que acrescentar, às delícias do dinheiro e do poder, a glória literária. Nosso escritor de aluguel vai se exaurindo. É a própria personalidade que lhe vai sendo sugada pelo insaciável senhorio. Na forma de palavras, frases e parágrafos, é a alma que põe em continuada venda.

Roberto Pompeu de Toledo, Revista VEJA, ed.1843, 3 de março de 2004. Ensaio p. 110.

O texto foi escrito com o objetivo de

(A) conscientizar o leitor.

(B) apresentar sumário de uma obra.

(C) opinar sobre um livro.

(D) dar informações sobre o autor.

(E) narrar um fato científico.

 

7- Carta (Texto I)

 

(Fragmento)

A terra não pertence ao homem; é o homem que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. O que fere a terra fere também os filhos da terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer à trama, a si próprio fará. Carta do cacique Seattle ao presidente dos EUA em 1855.

Texto de domínio público distribuído pela ONU.

Dicionário de Geografia  (Texto II)

 

(Fragmento)

Segundo o geógrafo Milton Santos: "o espaço geográfico é a natureza modificada pelo homem através do seu trabalho". E "o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções".

GIOVANNETTI, G. Dicionário de Geografia. Melhoramentos, 1996.

 

Os dois textos diferem, essencialmente, quanto

(A) à abordagem mais objetiva do texto I.

(B) ao público a que se destina cada texto.

(C) ao rigor científico presente no texto II.

(D) ao sentimentalismo presente no texto I.

(E) ao tema geral abordado por cada autor.

 

8- Luz sob a porta

— E sabem que que o cara fez? Imaginem só: me deu a maior cantada! Lá, gente,

na porta de minha casa! Não é ousadia demais?

— E você?

— Eu? Dei telogo e bença pra ele; engraçadinho, quem ele pensou que eu era?

— Que eu fosse.

— Quem tá de copo vazio aí?

— Vê se baixa um pouco essa eletrola, quer pôr a gente surdo?

(VILELA, Luiz. Tarde da noite. São Paulo: Ática, 1998. p. 62.)

 

O padrão de linguagem usado no texto sugere que se trata de um falante

(A) escrupuloso em ambiente de trabalho.

(B) ajustado às situações informais.

(C) rigoroso na precisão vocabular.

(D) exato quanto à pronúncia das palavras.

(E) contrário ao uso de expressões populares.

 

 

 

Boa sorte!