quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Reflexão sobre o filme  " Como Estrelas na Terra – Toda Criança é Especial".

O filme conta a história de um garoto indiano de mais ou menos oito anos que enfrenta problemas na escola por não conseguir aprender no mesmo ritmo do restante da turma. Em casa, os problemas só aumentam à medida que ele vai mal na escola, pois seus pais não admitem tal situação uma vez que Yohann, seu irmão mais velho é um excelente aluno. Com o passar do tempo Ishann é transferido para um internato porque já repetira o terceiro ano duas vezes. No internato sua vida piora muito, pois a escola é muito tradicional tendo como lema a ordem, disciplina e trabalho. Ishann se vê cada dia mais desolado de todos: sua família não o visita frequentemente, pois tem outras prioridades, na escola seu desempenho piora a cada dia. Felizmente Ishann pode contar com o apoio de um professor substituto de Artes, que percebe o problema do garoto e se vê obrigado a ajudá-lo. Depois de diagnosticar que a deficiência do menino era consequência da deslexia, o professor usando métodos alternativos de ensino consegue fazer com o interesse de Ishann volte e ele consegue  internalizar, ao seu modo, o conhecimento ministrado no internato e se torna um excelente aluno.

Analisando o episódio retratado no filme, percebemos o quanto pesa sobre nossos ombros a responsabilidade de criarmos mecanismos diferenciados para que a aprendizagem da criança aconteça de forma plena.

Cada criança tem uma maneira e um ritmo de aprender, pois provem de realidades distintas, e para descobrirmos quais são as suas habilidades e promovermos meios para que elas se desenvolvam, é necessário termos a perspicácia de conhecer  individualmente cada uma, por meio de atividades que facilitem a interação dela com as demais crianças e com o educador.

Estabelecer critérios rigorosos de avaliação do potencial de cada criança continuamente, para criarmos ações de melhoria, valorizar cada avanço apresentado, desenvolver atividades diversificadas e agir não como detentor do conhecimento, mas, como mediador, talvez sejam passos importantes para superarmos as nossas fraquezas e  dificuldades como educador, numa sociedade complexa e excludente onde cada criança deve ser considerada uma estrela.

Resenha do Conto A Enxada de Bernardo Elis.

 

            Vicente Celestino da Silva.

 

A Enxada ( Global, Bernardo Elis) é um conto que  narra a história de Supriano, mais conhecido como Piano. Ele era pobre, humilde, negro, honesto e muito trabalhador. Devido a uma pendência trabalhista adquirida com  o Delegado, pois Piano não conseguiu terminar a empreitada do "quintal de café", ficando assim devedor de "um conto de réis" para o tal delegado. Por conta desta dívida  Piano foi obrigado a trabalhar para o Capitão Elpídio Chaveiro, que era amigo do Delegado. Sobre as ordens do novo Senhor, Piano teria que plantar uma roça de arroz até o  dia de Santa Luzia. Cultivar as duas sacas de arroz não era problema para Supriano, se ele tivesse uma enxada. Por vários dias Piano tentou arranjar emprestada a tal da ferramenta  porém, não conseguira. Chegou mesmo a pensar em roubar uma, todavia se lembrou do "dos Anjo, que estava pubando na cadeia por causa de um cubu de enxada que diziam ter furtado". Ademais  o caráter de Piano não lhe permitia esse tipo de ação, que logo foi abandonada. Sem tempo e sem a maldita enxada, Piano resolveu na véspera de Santa Luzia, tomado por um delírio  fustigante, em plena escuridão, plantar a roça  fazendo das mãos a tão desejada enxada. " O camarada tocava os cotos sangrento de mão  na  terra, fazia um buraco com um pedaço de pau, depunha dentro algumas sementes de arroz, tampava logo com os pés e principiava nova cova". No alvorecer de Santa Luzia dois soldados, a mando do Capitão Elpídio, se aproximam  de Piano que já estava quase no fim da empreitada...Quando um tiro de fuzil ecoou  mata a dentro, sacudindo o frio da manhã e espantando os periquitos que roíam o olho dos buritis, acabando assim com o sofrimento de Piano.

O texto de Bernardo Elis, escrito na década de 60 retrata muito bem as relações de trabalho entre empregador e empregado, digo entre "Senhor e escravo", já que Piano foi entregue a Elpídio  como pagamento de uma dívida. A hierarquia era muito clara: de um lado, amparado pela lei, estava o Capitão Elpídio, o patrão; do outro, abandonado por ela, estava Piano, o escravo, que lutou com todas as forças para manter-se submisso, contrariando assim a Lei Áurea que pregava que após 1888 não deveria mais existir o trabalhador  escravo. A relação entre o texto e o contexto em que foi escrito parece retratar um regresso do personagem Piano a um passado arcaico e hostil no qual o trabalhador além de não ser dono dos meios de produção, também não possui  acesso as mais simples ferramentas de cultivo da terra. Esse texto mantém uma relação direta com a realidade social e econômica com a época em que foi escrito, pois nesse período o país passava pelo conturbado movimento do campesinato, que militava a favor da reforma agrária e em detrimento dos latifundiários. A figura de Piano nos remete as mazelas a  que o trabalhador braçal do campo se submetia, por outro lado nos faz pensar também no caráter e na identidade desse povo tão sofrido. "Nunca matei, num roubei, num buli com muié dos outros, gente". "O que eu quero é uma enxada para mode lavorar...". "Sou honrado, Capitão". "O que devo eu pago...." Cheio de regionalismo, o texto retrata  bem o falar caipira da classe menos favorecida, "sufragante", "percisano", "muié", "ranjou"etc. assim como enfoca as características socioculturais representadas de um lado por Piano, sua esposa defeituosa das pernas e pelo filho bobo que mal andava, de outro a elite representada pela figura do Delegado e Capitão Elpídio, filho de um senador. Nesse texto fica claro os processos sociais existentes entre dominadores e dominados, entre Capitão Elpídio e Piano.  A narrativa de Bernardo Élis mostra que nem sempre o indivíduo de mais conhecimento ou cultura letrada possui discernimento para agir com hombridade e honradez, e que, às vezes,  um humilde servo se mostra possuidor de um caráter que o dinheiro ou  status  social não podem criar.