sexta-feira, 16 de agosto de 2013

COERÊNCIA E PRODUÇÃO TEXTUAL

Texto (do latim textu, tecido) significa, de acordo com o dicionário Aurélio, um "conjunto de palavras, de frases

escritas". Com base nisso, é preciso que se promova entre suas partes uma relação de dependência (as ideias ganham sentido de acordo com as relações que mantêm entre si e o texto). A unidade textual é indispensável à coerência.

A coerência (do latim cohaerentia: o que está junto ou ligado) está entre os critérios de correção dos mais importantes vestibulares. Textos coerentes são resultado de um plano definido, que requer ideias ordenadas e ligadas de maneira clara e lógica. Sem coerência, torna-se impossível alcançar unidade: é preciso que as ideias se ajustem e se completem de maneira harmoniosa.

 

(OBSTÁCULOS À COERÊNCIA (A SEREM EVITADOS)

Presença de contradições entre frases ou entre parágrafos: se você for convidado a discutir, por exemplo,

a validade da pena de morte, seria incoerente defendê-la como forma de combater a violência. Do mesmo modo, num texto em que se defendesse a total liberdade de expressão, não caberia apoiar qualquer tipo de censura, o que resultaria em patente contradição.

 

Falta de encadeamento argumentativo: os argumentos precisam estar em harmonia entre si. Para assegurar

isso, você deverá selecionar adequadamente evidências, exemplos e justificativas a serem integrados em seu texto.

Não há sentido, portanto, em confrontar argumentos — isso resulta em contradições que impedirão o leitor de conhecer o seu real posicionamento.

 

Circularidade ou quebra de progressão discursiva: a falta de ideias não raro leva à redundância — recurso

que consiste em apresentar as mesmas ideias, mudando apenas as palavras. Dessa forma, o texto não progride, não avança. Deve-se, ainda, evitar o "vai-e-vem" (abordar um enfoque, interrompê-lo e voltar a abordá-lo noutro parágrafo).

Esgote cada enfoque antes de passar ao seguinte.

 

Conclusão não decorrente do que foi exposto: é importante ordenar logicamente as ideias, encadeá-las

coerentemente. Para tanto, não se pode perder de vista a ideia central do texto (em torno da qual todos os argumentos devem girar). Assim, à introdução segue-se o desenvolvimento, que por sua vez conduzirá a uma conclusão que esteja em consonância com o que foi defendido ao longo do texto.

 

Recomendações para assegurar a coerência textual:

1 - Organize suas ideias de forma lógica.

2 - Preocupe-se em articular as partes do texto.

3 - Evite repetir palavras e ideias – isso denota falta de reflexão e de domínio sobre o que se está escrevendo.

 

PROPOSTA DE REDAÇÃO

Agora você vai exercitar: a dissertação abaixo (adaptada de um Editorial da Folha de S. Paulo) contém alguns

períodos incoerentes com a tese que está sendo defendida. Após identificá-los, elimine-os ou faça os remanejamentos que você julgar necessários. Em seguida, reescreva o texto, obedecendo aos critérios de coerência que você assimilou. Mantenha o título original.

 

Educação sexual

            Deve gerar polêmica a proposta de antecipar o início dos programas de educação sexual nas escolas. A ideia, que estaria sendo aventada pelo governo, é passar a contemplar o público de 10 a 15 anos. De acordo com a Unesco, a gravidez precoce é hoje a maior causa da evasão escolar entre garotas brasileiras de 15 a 17 anos. A controvérsia vem do fato de que o programa em questão, o Saúde e Prevenção na Escola, também oferece preservativos a escolas públicas, para que em determinados casos sejam concedidos a alunos interessados em obtê-los.

            Em geral, pré-adolescentes de dez anos são pouco mais do que crianças ainda longe de dar início à vida sexual.

Há, entretanto, dados estatísticos e considerações epidemiológicas que merecem atenção. Milhões de reais já foram gastos num inglório combate aos efeitos. Tal estratégia não funciona. É conhecida a correlação entre a maior precocidade da vida sexual e a maior suscetibilidade a DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), incluindo aí a aids. No caso da gravidez precoce, há números inquietantes. Acidentes de trânsito e homicídios também figuram entre as principais causas de morte entre os jovens, sem mencionar os abusos sexuais, que deixam traumas irreversíveis.

            É indiscutível que informação e acesso a preservativos são o melhor remédio para evitar, a um só tempo, DSTs, gravidez precoce e abortos clandestinos. Assim, não é infundado que se cogite a inclusão de crianças com dez anos ou mais num programa com essas características. Uma decisão nesse sentido, no entanto, muito provavelmente criará conflitos com os pais, que precisam ser esclarecidos e consultados previamente.

            Não é preciso ser psicólogo para que se possam prever as distorções afetivas, psíquicas e emocionais dessa perversa iniciação precoce, que ocorre muitas vezes com o apoio das próprias mães. Fascinadas com a perspectiva de um bom cachê em programas de TV, muitas delas condenam prematuramente suas crianças a uma vida "adulta", sórdida.

            O mais razoável seria criar programas-piloto em escolas especialmente escolhidas e no contexto de uma ampla discussão com familiares, alunos e a comunidade local. Das 49 mil jovens que procuraram hospitais da rede do SUS para fazer curetagens pós-aborto, 2.711 tinham entre 10 e 14 anos.

            Assuntos de ordem sexual requerem uma abordagem especialmente cuidadosa. É imperativo, pois, que as crianças e os adolescentes contem com informação adequada e meios que os ajudem a ter uma vida saudável. O Brasil é uma nação emergente e, sem dúvida, tem as mulheres mais bonitas do mundo, mas precisa dar mais atenção a menores carentes, a fim de evitar que continue a crescer o número de crianças prostitutas. E os professores não podem continuar ignorando o assunto "educação sexual", omitindo-se de sua responsabilidade. 

COESÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL

A produção de um texto consiste não apenas num agrupamento aleatório de ideias, mas principalmente em ligações que resultem numa unidade textual. A coesão é obtida quando se promove a devida conexão entre palavras, orações, períodos e parágrafos. Existem diversos recursos linguísticos que podem servir para conectar as partes do texto: são os conectivos (conjunções, preposições, pronomes e até mesmo advérbios). É imprescindível conhecer a função de cada um desses elementos de ligação, a fim de garantir uma sequência lógica ao texto.

 

Observe alguns desses recursos:

a) e, além de, além disso, ademais, ainda, bem como, também – acrescentam ideias, argumentos.

b) embora, não obstante, apesar de, a despeito de – estabelecem relação de concessão, de resignação.

c) mas, porém, contudo, entretanto, no entanto – estabelecem oposição entre as ideias.

d) assim, dessa forma, portanto, desse modo, por fim, enfim – complementam e concluem ideias.

e) assim como, da mesma forma que, como, tal qual – estabelecem relação de comparação, de semelhança.

f) de fato, realmente, é verdade que, evidentemente, obviamente, está claro que – são usados para fazer

constatações ou para se admitir um fato.

g) porque, devido a, em virtude de – introduzem explicações.

h) antes de mais nada, sobretudo, principalmente, especialmente – são usados para dar ênfase ou destaque

a algum fato ou ideia.

i) antes que, enquanto, depois que, quando, no momento em que – estabelecem relação de tempo.

j) conforme, de acordo com – estabelecem relação de conformidade.

 

Recomendações para garantir a coesão textual:

1. Estruture o texto numa sequência lógica.

2. Estabeleça relações entre as frases e entre os parágrafos.

3. Faça uma revisão do texto: se houver necessidade, remanipule suas partes para tornar o conjunto coeso.

 

Proposta de Redação

O texto abaixo apresenta falhas de coesão, decorrentes do uso inadequado de determinados conectivos. Faça as

devidas correções, evitando porém alterar o conteúdo original.

 

Tragédia infantil

            Nossas crianças não sabem ler. Tampouco escrever. De acordo com estudo preparado pelo Instituto de Estatísticas e Pesquisas Educacionais (Inep), ligado ao Ministério da Educação, revela: um terço das crianças brasileiras matriculadas na 4ª série do ensino fundamental não sabem sequer o que deveriam ter aprendido ao final do 1º ano escolar. Sem considerar apenas as escolas públicas, na qual esse índice fica ainda pior: 33,3%. Chegando, nas redes municipais, a 35%.

            A despeito disso, essa realidade fica ainda pior quando se olham as diferenças regionais. Como no Rio Grande do Norte, por exemplo, quase 60% dos estudantes estão nessa situação. Sem falar de São Paulo, o estado mais rico do País, no qual mantém 28,7% das crianças nesse nível.

            Pois se trata de crianças prestes a entrar em um mundo ainda mais complexo. Sem conseguirem entender uma historinha mais longa ou mesmo o enunciado de uma questão. Porque textos de 8 a 10 linhas, com vocabulário simples, representam um enigma para as mesmas: sendo que elas não conseguem localizar informações, nem entender o assunto abordado. Além de não saberem identificar o tipo de texto (um bilhete, uma piada), nem reconhecerem elementos como tempo, espaço e personagens.

            Não se pode, ademais, considerar que esses estudantes estejam alfabetizados. Ao passo que essa defasagem os coloca muito aquém da progressão natural do aprendizado. Onde comprometerá definitivamente seu futuro escolar. Sendo que se porventura chegarem à universidade, obterão apenas um diploma formal. O que não os habilitará para se inserirem no mercado de trabalho como profissionais qualificados.

            Avaliar nossos estudantes de maneira transparente é certamente um passo importante, onde é preciso ir além do diagnóstico. Procedendo imediatamente à busca da cura. Já que nossas crianças não podem esperar.