Os puristas e a mentira do "vale-tudo"
Atenção! Cuidado! Alerta! Não acredite nos puristas que andam declarando nos meios de comunicação que os linguistas são defensores do "vale-tudo" na língua. Esse é mais um dos muitos argumentos falaciosos que eles utilizam para desqualificar os resultados das pesquisas científicas e as propostas de renovação da pedagogia de língua inspiradas em critérios mais racionais e menos dogmáticos, e em posturas políticas menos intolerantes e mais democráticas.
É claro que, numa perspectiva exclusivamente linguística, de análise da língua em seu funcionamento interno, tudo tem o seu valor. Afinal, como nada na língua é por acaso, então toda e qualquer manifestação linguística está sujeita a regras e tem sua lógica interna: não há razão para atribuir maior ou menor valor à forma linguística A ou à forma linguística B. Seria algo tão inaceitável quanto um zoólogo achar que as borboletas têm maior valor que as joaninhas e que, por isso, as joaninhas devem ser eliminadas... Para o cientista da linguagem, toda manifestação linguística é um fenômeno que merece ser estudado, é um objeto digno de pesquisa e teorização, e se uma forma nova aparece na língua, é preciso buscar as razões dessa inovação, compreendê-la e explicá-la cientificamente, em vez de deplorá-la e condenar seu emprego.
Mas o linguista consciente também sabe que a língua está sujeita a avaliações sociais, culturais, ideológicas, e que precisa também ser estudada numa perspectiva sociológica, antropológica, política etc. Nessa perspectiva, existem formas linguísticas que gozam de maior prestígio na sociedade, enquanto outras – infelizmente – são alvo de estigma, discriminação e até de ridicularização. As mesmas desigualdades, injustiças e exclusões que ocorrem em outras esferas sociais – no que diz respeito, por exemplo, ao sexo da pessoa, à cor da pele, à orientação sexual, à religião, à classe social, à origem geográfica etc. – também exercem seu peso sobre a língua ou, mais precisamente, sobre modos particulares de falar a língua.
BAGNO, Marcos.
01. Relacionando as ideias do texto a aspectos gerais da língua falada e da escrita, analise as proposições abaixo.
1) Numa perspectiva exclusivamente linguística, não há como negar que a modalidade escrita é comunicativamente mais correta, já que a modalidade falada está mais sujeita a variações.
2) As manifestações mais evidentes de preconceito linguístico se aplicam à modalidade falada da língua e atingem, especialmente, as pessoas que não dominam o que se chama de 'Norma Culta'.
3) As atitudes discriminatórias que atingem certas variantes da modalidade falada se assemelham às desigualdades, injustiças e exclusões que ocorrem em outras esferas sociais.
4) Para o cientista da linguagem, a alta frequência de formas linguísticas novas que surgem todos os dias na modalidade falada atesta a maior dinamicidade dessa modalidade, em relação à escrita. Estão corretas:
A) 1, 2, 3 e 4
B) 2, 3 e 4, apenas
C) 1, 3 e 4, apenas
D) 1, 2 e 4, apenas
E) 1, 2 e 3, apenas
02. A análise das características gerais do Texto 1 nos permite afirmar que:
1) apesar de ele ser iniciado com trechos apelativos, do ponto de vista funcional, trata-se de um texto expositivo, com argumentação consistente em defesa de um posicionamento teórico.
2) de um ponto de vista semântico, vê-se que há evidente prevalência do sentido conotativo das palavras e expressões nele empregadas, como requer o gênero de texto selecionado.
3) nele, optou-se pela simplicidade vocabular e pela obediência às recomendações da Norma Padrão da língua, sem a utilização de muitas figuras de linguagem que dificultassem sua compreensão.
4) embora, do ponto de vista temático, ele aborde questões referentes à língua, sua função não é privilegiadamente metalinguística; o que sobressai é sua função referencial. Estão corretas:
A) 1, 2, 3 e 4
B) 1, 2 e 3, apenas
C) 1, 2 e 4, apenas
D) 1, 3 e 4, apenas
E) 2, 3 e 4, apenas
03. Mais relevante do que saber em que classe gramatical uma palavra se enquadra é saber que função essa palavra desempenha no texto e que efeito de sentido provoca no discurso. Nessa perspectiva, assinale a alternativa correta.
A) No trecho: "Não acredite nos puristas que andam declarando nos meios de comunicação que os linguistas são defensores do "vale-tudo" na língua. Esse é mais um dos muitos argumentos falaciosos que eles utilizam para desqualificar os resultados das pesquisas científicas (...).", os pronomes destacados levam o leitor a realizar um movimento de retomada no texto, o que promove a coesão entre fragmentos desse trecho.
B) No trecho: "Afinal, como nada na língua é por acaso, então toda e qualquer manifestação linguística está sujeita a regras e tem sua lógica interna:", o termo destacado é uma conjunção que, nesse contexto, tem valor comparativo.
C) No trecho: "É claro que, numa perspectiva exclusivamente linguística, de análise da língua em seu funcionamento interno, tudo tem o seu valor.", a expressão 'É claro' expressa um sentido adverbial de dúvida e suposição.
D) O último parágrafo é iniciado com uma conjunção: "Mas o linguista consciente também sabe que a língua está sujeita a avaliações sociais, culturais, ideológicas, (...).", que cumpre a função de intensificar a referência feita ao número de 'linguistas conscientes'.
E) No trecho: "existem formas linguísticas que gozam de maior prestígio na sociedade, enquanto outras – infelizmente – são alvo de estigma, discriminação e até de ridicularização.", o advérbio destacado indica o modo como as formas linguísticas são discriminadas.
04. As regras ortográficas, mesmo sendo oficialmente sancionadas, passam por alterações de tempos em
tempos. Acerca das regras ortográficas da língua portuguesa, assinale a alternativa correta.
A) A supressão do trema, a partir do Acordo Ortográfico que entrou em vigor em janeiro de 2009, alterou a grafia, por exemplo, das palavras 'distinguir' e 'sequidão'.
B) A regra que prevê acento em todas as palavras proparoxítonas justifica o acento de palavras como 'rúbrica' e 'púdica'.
C) Ainda que a letra h não represente um fonema no início de algumas palavras, ela deve estar presente, por exemplo, em: 'humidade' e 'hojeriza'.
D) Devem ser grafadas com c palavras como: 'pretencioso' e 'ancioso'.
E) Deve grafar-se com ç a palavra 'exceção'; e com ss a palavra 'repercussão'.
05. O Texto 1 recomenda que tenhamos cuidado com os "puristas". Na Literatura, também é possível identificar uma visão mais, ou menos, purista da linguagem. A esse respeito, assinale a alternativa correta.
A) A produção poética da 1ª geração romântica apresenta forte preocupação purista, do que decorre uma tentativa de fazer renascer a língua portuguesa segundo os padrões lusitanos, com forte rejeição às formas linguísticas nacionais.
B) O Arcadismo se destaca como um dos movimentos literários de maior rigor purista, que se revela na preferência por uma linguagem rebuscada, vocabulário erudito, de difícil acesso e frases na ordem inversa.
C) Os autores barrocos revelam uma visão purista da linguagem ao privilegiarem o cultismo, que se caracteriza pelo rebuscamento formal, manifestado no jogo de palavras e no excessivo emprego de figuras de linguagem.
D) A produção literária da 2ª geração romântica, opondo-se à 1ª, adota uma visão nada purista, revelada na extrema simplicidade da linguagem, que rejeitava formas lusitanas para expressar, nos textos, a grande alegria de ser brasileiro.
E) A 3ª geração romântica, antecipando a visão pouco purista do Realismo, que viria em seguida, prefere uma linguagem despojada, direta e até chula, que consiga retratar com objetividade a realidade brasileira
1B 2D 3A 4E 5C.
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