sábado, 17 de novembro de 2012

Avaliação de leitura e escrita 6º ano com gabarito (projeto Araribá)

A espada

Uma família de classe média alta. Pai, mulher, um filho de sete anos. É a noite do dia em que o filho fez sete anos. A mãe recolhe os detritos da festa. O pai ajuda o filho a guardar os presentes que ganhou dos amigos. Nota que o filho está quieto e sério, mas pensa: "É o cansaço". Afinal ele passou o dia correndo de um lado para o outro, comendo cachorro-quente e sorvete, brincando com os convidados por dentro e por fora da casa. Tem que estar cansado.

— Quanto presente, hein, filho?

— É.

— E esta espada. Mas que beleza. Esta eu não tinha visto.

— Pai...

— E como pesa! Parece uma espada de verdade. É de metal mesmo. Quem foi que deu?

— Era sobre isso que eu queria falar com você. O pai estranha a seriedade do filho. Nunca o viu assim. Nunca viu nenhum garoto de sete anos sério assim. Solene assim. Coisa estranha... O filho tira a espada da mão do pai. Diz:

— Pai, eu sou Thunder Boy.

— Thunder Boy?

— Garoto Trovão.

— Muito bem, meu filho. Agora vamos pra cama.

— Espere. Esta espada. Estava escrito. Eu a receberia quando fizesse sete anos.

O pai se controla para não rir. Pelo menos a leitura de história em quadrinhos está ajudando a gramática do guri. "Eu a receberia..." O guri continua.

— Hoje ela veio. É um sinal. Devo assumir meu destino. A espada passa a um novo Thunder Boy a cada geração. Tem sido assim desde que ela caiu do céu, no vale sagrado de Bem Tael, há sete mil anos, e foi empunhada por Ramil, o primeiro Garoto Trovão. O pai está impressionado. Não reconhece a voz do filho. E a gravidade do seu olhar. Está decidido. Vai cortar as histórias em quadrinhos por uns tempos.

— Certo, filho. Mas agora vamos...

— Vou ter que sair de casa. Quero que você explique à mamãe. Vai ser duro para ela. Conto com você para apoiá-la. Diga que estava escrito. Era o meu destino.

— Nós nunca mais vamos ver você? — pergunta o pai, resolvendo entrar no jogo do filho enquanto o encaminha, sutilmente, para a cama.

— Claro que sim. A espada do Thunder Boy está a serviço do bem e da justiça. Enquanto vocês forem pessoas boas e justas poderão contar com a minha ajuda.

— Ainda bem — diz o pai.

E não diz mais nada. Porque vê o filho dirigir-se para a janela do seu quarto, e erguer a espada como uma cruz, e gritar para os céus "Ramil!". E ouve um trovão que faz estremecer a casa. E vê a espada iluminar-se e ficar azul. E o seu filho também. O pai encontra a mulher na sala. Ela diz:

— Viu só? Trovoada. Vá entender este tempo.

— Quem foi que deu a espada pra ele?

— Não foi você? Pensei que tivesse sido você.

— Tenho uma coisa pra te contar.

— O que é?

— Senta, primeiro.

L. Fernando Veríssimo.

 

1 Qual alternativa mostra a principal intenção dessa crônica?

a) Criticar o excesso de presentes que as crianças

de classe média alta ganham em seus aniversários.

b) Demonstrar que os pais nunca acreditam em

seus filhos.

c) Narrar acontecimentos fictícios vividos por menino que recebe uma espada mágica ao fazer sete anos.

 

2 Quem são as personagens dessa crônica?

 

3 A crônica gira em torno de um segredo que é revelado ao pai pelo menino.

a) Por que o pai não acredita nessa revelação?

b) Em que momento do texto o pai passa a acreditar no filho?

 

4 O pai identifica dois efeitos diferentes que a leitura de histórias em quadrinhos provocou no filho. Quais são eles?

 

5 Copie do texto o trecho que indica o tempo e o lugar em que se passa a ação da história.

 

6 Identifique os quatro momentos principais da ação seguindo este esquema:

Situação inicial  - conflito – clímax – desfecho.

 

7 Que tipo de linguagem costuma ser mais utilizada nas conversas entre pai e filho: formal ou informal? E nessa crônica, que linguagem predomina nas falas do filho? Por que isso ocorre?

 

8 Releia.

"O guri continua."

A palavra guri é muito comum no Rio Grande do Sul e significa "menino". Que tipo de variedade linguística ocorre nessa situação?

 

9 Produção textual

Escreva uma continuação dessa crônica, imaginando como seria a primeira aventura do menino depois de ter se transformado em Thunder Boy. Na elaboração do texto, lembre-se de incluir os quatro momentos da narrativa:

situação inicial;

um problema que altera a situação inicial e desencadeia a ação da história;

o momento de maior tensão;

conclusão da história e solução do problema.

 

Gabarito

1 Alternativa c.

2 O pai, a mãe e o menino.

3 a) O pai não acredita nessa revelação porque super-heróis e espadas mágicas não existem no mundo real.

b) O pai passa a acreditar no filho quando o menino ergue a espada, grita "Ramil!" e, depois de um trovão, a espada e ele ficam azuis.

4 Inicialmente, ele identifica um efeito positivo, pois os quadrinhos estariam "ajudando a gramática do guri". Em seguida, estranhando o comportamento do filho, pensa em cortar essas histórias por um tempo.

5 Tempo: "É a noite do dia em que filho fez sete anos". Espaço: "Afinal ele passou o dia correndo de um lado para o outro, comendo cachorro-quente e sorvete, brincando com os convidados por dentro e por fora da casa."

6 Situação inicial: ao final de uma festa de aniversário, enquanto a mãe limpa a casa, pai e filho guardam os presentes. Conflito: o menino revela ao pai que é o Thunder Boy. Clímax: o menino levanta sua espada, grita "Ramil!" para os céus e ele e a arma

ficam azuis. Desfecho: o pai conversa com a mãe sobre a espada e diz que tem algo para contar a ela.

7 Espera-se que os alunos percebam que costuma ser utilizada a linguagem informal. Na crônica, predomina a linguagem formal nas falas do filho, pois o menino pretende fazer uma séria revelação sobre sua verdadeira identidade.

 

8 Ocorre uma variedade regional, pois se trata de uma palavra utilizada em uma região específica do país.

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